Brasil, o País do remendo.

11/10/2012 12:57

Texto muito interessante, com o talento e criatividade que temos, ainda temos dificuldades em planejamento a longo prazo. Leiam!

“Nós brasileiros somos conhecidos por nossa incrível capacidade de sermos criativos.
Somos capazes de consertar complicadíssimos aparelhos eletrônicos com um simples chiclete; de transformar garrafas em brinquedos ou vassouras; de criar arte a partir de dificuldades, enfim, somos mesmo criativos.
O preocupante é o motivo que nos fez tão criativos.
A ausência absoluta de planejamento a longo prazo; a ânsia por respostas; a ansiedade por soluções imediatas…
Acomodamo-nos em nossa própria criatividade, que resolve, mas não mantém resolvido.
Não sofremos por freada inação… sofremos, por inalação histórica, na ação desenfreada da nação…
Tivemos:
Um dia do fico, dizem, como remendo para uma disenteria marginal;
Um golpe republicano, como um remendo à incompetência imperialista de um monarca desastrado;
Um Novo Estado, como um remendo populista à república ultrapassada, com, diga-se, o remendo histórico das normas trabalhistas;
Um golpe militar, como remendo às ameaças comunistas, ocultas em forças Gularistas;
Mobilizações populares diretas, já como remendo ao lento, seguro e gradual;
Uma Assembleia Nacional Constituinte, com tantas comissões e textos normativo-principiológicos, que se foi necessária uma comissão “remendadora”;
Caras pintadas, como remendo à democracia Collorida;
16 anos de remendos privatistas e populistas, sempre sem qualquer planejamento.
Somos o País do remendo por um processo social, cultural e histórico!
Ta no sangue, sangue remendado de verde e amarelo.
Ouço sobre troca de técnicos de futebol como remendo para o mau planejamento esportivo dos clubes;
Ouço sobre o transporte público, com ideias mirabolantes em metrópoles megalomaníacas, antes do desbravamento do braço d’água que Tieta com o centralismo caótico.
Ouço sobre a gratuidade do ensino capaz, antes da capacitação do ensino gratuito;
Enfim, ouço o suprassumo da criatividade remendista, antes do planejamento reformista”.

(Texto: Rafael Figueiredo, advogado)

 

Motivação “Tapa-Buraco” !

 

Desde que saímos do Brasil em fevereiro do ano passado visitamos 26 países. Durante essa jornada tivemos a oportunidade de sentir um pouco mais do que é o mundo real, conhecê-lo não só pelo que vemos pela TV ou por aquilo que pesquisamos na internet, nossos olhos estavam lá, nossos pés também, em cada um dos incontáveis passos que demos. Filosofia à parte, traçar comparações entre cada país não foi intencional, mas se tornou algo inevitável.

E comparando percebemos que o Brasil é o país dos remendo, falo isso pela qualidade dos serviços públicos que vimos em cada país. Cito aqui exemplos que vão desde transporte, saúde, rodovias, educação, cultura, até a preocupação com a acessibilidade dos cadeirantes nas calçadas, metrôs, atrações turísticas, etc, o que nos supreendeu muito. Ou seja, notamos ações cuja motivação era de fato o bem estar das populações.

Cada país tem seus méritos a partir de seus esforços. Planejamento, organização e trabalho duro fazem cidades florescerem até mesmo onde aparentemente não é possível. Pra ser sincero fiquei muito decepcionado com o Brasil nesse sentido, pois em geral as coisas tem que chegar a um estado de calamidade para que uma inciativa seja tomada. O mais triste é que a nossa solução, nas mais diversas áreas, não passa de uma “operação tapa-buraco”. Saímos remendando algo que deveria ter sido feito pra durar. Ao invés de concreto para os nossos ideais, usamos um material qualquer e esperamos para ver o que vai dar na “próxima chuva”. Nossas vias são remendadas, nossa fiação é remendada, nossos museus, nossas calçadas, sistema de saúde, escolas públicas, nossos aeroportos e até nossa política é remendada, bom a lista formaria uma bela colcha de retalhos mas já deu pra entender. E não é só da inciativa pública que falo, essa é uma boa reflexão sobre nossas ações diárias: será que nós brasileiros também não estamos nos acostumando à remendar ?! Não importa se de ordem pessoal ou profissional, muitas vezes, tapamos buracos ou pegamos um atalho para resolver de modo imediatista aquilo que deveria ser pensado a longo prazo. Mas como toda ação superficial, logo mais os problemas voltarão à tona nos dando o dobro de trabalho e muitas vezes um belo prejuízo.

Foi ótimo receber esses dias o texto de um grande amigo, Rafael Figueiredo, que compartilho a seguir, pois mesmo sem termos conversado sobre esse assunto, suas palavras descrevem de uma maneira muito interessante o que sentimos durante a viagem ao comparamos esse tipo de atitude do nosso país com vários outros.

Por Dan España.

 

Fonte.: https://vocesa.abril.com.br/blog/o-que-te-motiva/2012/10/01/tapa-buraco/